Terror de qualidade feito pelo Zoom em 2020? Feito.
- Vitória Pompeu da Costa
- 16 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Enquanto muitas produções de cinema e audiovisual pararam por semanas pelo mundo todo até que um sistema fosse criado para que as filmagens fossem realizadas em segurança, em apenas doze semanas - da concepção inicial até estar finalizado e disponível em seu streaming original, Shudder - Rob Savage e sua equipe fizeram um filme que acredito que será bem lembrado e que marcou seu lugar nas listas de filmes de terror. No mesmo tempo em que eu e meus colegas passamos mais do que doze semanas (fácil) reclamando da falta de aulas e projetos atrasados na faculdade, talvez uma criatividade como a da equipe de Host, que com uma produção considerada simples para filmes do gênero, avançou muito ao tempo que estávamos parados sem fazer o que tanto gostamos e estudamos: fazer filmes. Acho que essa vai ser uma raiva carregada, por um certo tempo, por mim e meus amigos, que nem ao menos ousamos nos mexer para tentar fazer algo parecido e temos como prova esse filme, que para quem assistiu, por um tempo uma ligação pelo Zoom terá o peso da ansiedade (normal até então no início e silêncios constrangedores das ligações), suspense e incertezas que Host deixa como trilha.
O filme de terror Host de 2020, desconsiderando, obviamente, os filmes filmados antes do estouro da pandemia, é um filme que carrega consigo o fato de seus espectadores conseguirem se identificar, em parte, com a situação vivida por suas personagens, todas em isolamento social, se encontrando virtualmente através do Zoom. Até aí muita gente pode se identificar com essa premissa básica do filme, que na verdade se elabora para um séance/sessão espírita virtual entre amigas, que como todo bom filme de terror, não tem um resultado positivo. O filme dirigido por Rob Savage tem um ar de referências de A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal (antes das muitas respectivas sequências), o que provavelmente será abordado em futuros filmes: horror na quarentena.
Como em A Bruxa de Blair, Host usa os nomes de suas atrizes para suas personagens, o que funciona bem pois as atrizes entregam com naturalidade o medo, o que faz com que nós, espectadores, tenhamos a mesma sensação, quase como se estivéssemos vivendo a situação junto delas. O senso de realidade com o passar do filme, em conjunto com a atmosfera criada com esse aspecto da webcam dos computadores, e do fundo de cada pessoa em sua janela de ligação, entregam muitos jump scares, mas podemos aceitá-los porque são em sua maioria, muito bem pensados e feitos, sejam em efeitos práticos ou feitos na pós-produção.

A genialidade do filme se dá na criatividade de usar os recursos do próprio Zoom à seu favor, com menos de uma hora de ligação, desde o início que pode deixar qualquer pessoa confusa por achar que abriu o aplicativo ao invés de dar play ao filme, ao uso de planos de fundo, interrupções na ligação, falhas de internet e dos créditos finais como os participantes da ligação, talvez seja melhor e mais imersivo se assistido em uma tela de computador ao invés da televisão para uma experiência completa que o filme pode oferecer. Os recursos e configurações do próprio aplicativo como a presença de uma entidade sobrenatural talvez seja um dos fatores mais criativos e espertos do filme.
Direção: Rob Savage.
Roteiro: Gemma Hurley, Rob Savage e Jed Sheperd.
Shudder (Produção e streaming original).
Elenco: Haley Bishop, Jemma Moore, Emma Louise Webb, Radina Drandova, Caroline Ward, Alan Emrys, Seylan Baxter;
Ano: 2020.
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